Estágio Curricular Supervisionado em Dança na Universidade Federal de Pelotas: formação em movimento
Andrisa Kemel Zanella[1]
https://orcid.org/0000-0001-9769-9679
Josiane Franken Corrêa[2]
https://orcid.org/0000-0003-3983-0215
Marco Aurelio da Cruz Souza[3]
https://orcid.org/0000-0002-9243-5372
Resumo
O artigo reflete sobre o papel dos Estágios Curriculares Obrigatórios na formação docente no Curso de Dança - Licenciatura, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A escrita é tecida pelo olhar de três professores orientadores dessa etapa formativa, em diálogo com teorias da área. Optou-se por uma abordagem autorreflexiva e situada, alinhada com a pesquisa-formação (Josso, 2004). Dialoga com os estudos de Ranciére (2002), Corrêa (2018), Souza (2021), entre outros, assim como documentos da educação nacional (Brasil, 1996, 2015) e da UFPel (2013, 2023). Considera-se que os estágios para o licenciando(a) em Dança é crucial para sua apropriação e (re)conhecimento da profissão escolhida, fazendo com que ele(a) perceba afinidades e se reconheça nesse ofício.
Palavras-chave: Dança. Educação Básica. Estágio Supervisionado. Licenciatura. Ensino Superior.
Supervised Curricular Internship in Undergraduate Dance Course at Federal University of Pelotas: education in movement
Abstract
This paper aims to reflect on the role of Mandatory Curricular Internships in teacher education for the Dance Degree Program at the Federal University of Pelotas (UFPel). The paper draws on the perspectives of three teachers directly involved in guiding this formative stage, in dialogue with existing theories in the field. A self-reflective and situated approach was chosen, aligned with research-education (Josso, 2004). It dialogues with studies by Ranciére (2002), Corrêa (2018), Souza (2021), among others, as well as documents from national education in Brazil (1996, 2015) and UFPel (2013, 2023). Mandatory Curricular Internships for Dance degree students are considered crucial for their appropriation and (re)cognition of their chosen profession, enabling them to perceive affinities and recognize themselves in this profession.
Keywords: Dance. Basic education. Supervised internship. Graduation. University education.
Questões iniciais
Este artigo tem como objetivo partilhar reflexões acerca dos Estágios Curriculares Supervisionados Obrigatórios e de seu papel na formação docente no Curso de Dança - Licenciatura, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Essa etapa formativa no referido curso busca desenvolver a articulação dos saberes discentes com as teorias da educação e da arte, assim como sua integração com a pesquisa, o ensino e a extensão. A relação teoria-prática-vida-arte oportuniza, nesse sentido, uma trajetória formativa que ocorre diretamente no corpo, e dele são criados saberes mais sensíveis, distanciando-se de práticas unicamente transmissivas. Isso potencializa sua forma de ser e estar no mundo e, consequentemente, na sua forma de organizar os processos de ensino a partir da investigação constante sobre seus fazeres docentes.
O referido curso tem como objetivo “formar professores/as, artistas, pesquisadores/as para atuar na educação básica [...]” (UFPel, 2023, p. 30). Para a concretização desse objetivo, identificamos que a base curricular do curso abrange uma densa formação, atravessada por processos de pesquisa, de criação artística, do pensar e agir pedagógicos[4].
Ressaltamos que o Estágio Curricular Supervisionado Obrigatório desse curso é realizado nas diferentes etapas das escolas da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental - Anos Iniciais e Finais, e Ensino Médio), configurando-se em um exercício para a aprendizagem da docência em Dança. É nesse espaço formativo, ou seja, nas escolas de Educação Básica que os(as) estagiários(as) colocam em ação conhecimentos construídos durante a formação universitária em diálogo constante com suas experiências de vida, mobilizando saberes múltiplos que compõem a singularidade de cada uma das práticas pedagógicas desenvolvidas por eles.
Souza (2021, p. 199) reflete que, na formação inicial do(a) professor(a) de dança, os(as) estudantes precisam dominar conhecimentos “técnicos, históricos, antropológicos, anatomofisiológicos, sociais, culturais, teóricos, artísticos, estéticos e somáticos, dentre tantos outros relacionados à dança”. O autor ainda reforça que é preciso “formar um profissional sensível à diversidade, aberto ao diálogo, flexível, crítico, consciente de suas ações políticas, éticas e estéticas” (Souza, 2021, p. 199).
Nós, como professores membros da comissão de estágios obrigatórios do curso de Dança - Licenciatura da Universidade Federal de Pelotas, e também como docentes nos quatro componentes curriculares de estágio supervisionado no contexto das escolas de Educação Básica da região de Pelotas (RS), reunimo-nos constantemente para planejar, revisar o planejamento do componente, criar parcerias com as secretarias de educação (municipal e estadual), elaborar protocolos de aproveitamento do programa Residência Pedagógica, avaliar nossas ações, entre outras atividades.
Nesse caminho, o corpus da pesquisa foi constituído por registros diversos produzidos no contexto em questão, incluindo a documentação de planos de aula e projetos elaborados por estagiários(as), trocas reflexivas e de experiências entre docentes durante reuniões de trabalho, bem como anotações que percebemos em aula sobre o processo formativo. Além disso, documentos institucionais, como o Projeto Pedagógico do Curso - PPC (UFPel, 2019; 2023) e as resoluções que normatizam os estágios, também foram mobilizados como fontes complementares.
Na relação da experiência pessoal com os documentos citados, optou-se por uma abordagem autorreflexiva e situada, alinhada com a pesquisa-formação (Josso, 2004), que entende os saberes docentes como impulsionadores da articulação entre experiência, reflexão e produção de conhecimento teórico.
Muitas são as reflexões que emergem dessa articulação. Entre elas, destacam-se os seguintes questionamentos: enquanto professores(as) e orientadores(as) de estágio curricular supervisionado, estamos formando professores(as) qualificados para atuar na Educação Básica e auxiliar na formação cidadã desses(as) estudantes? Quais são os aspectos da arte que se relacionam com os aspectos éticos-políticos-estéticos que precisamos evidenciar com nossos(as) estagiários(as) para atuarem com as turmas frente às demandas emergentes que surgem na escola? Quais devem ser as metodologias utilizadas nas diferentes faixas etárias? De que forma podemos contribuir para que os(as) licenciandos(as) reconheçam a relevância de sua atuação na Educação Básica para o fortalecimento da área da Dança? Por último, como a docência em dança pode ser configurada em diferentes contextos educativos? Diante dessas questões, a investigação visa a compreender os sentidos formativos atribuídos ao estágio supervisionado em dança como campo de produção de conhecimento docente, em diálogo com a realidade das escolas de Educação Básica e com os desafios que atravessam a formação na contemporaneidade.
Currículo em movimento
Os Estágios Curriculares Supervisionados Obrigatórios no Curso de Dança - Licenciatura, da Universidade Federal de Pelotas, configuram-se em atividades obrigatórias na disciplina de Ensino de Arte em contexto escolar, com caráter teórico-prático, fundamentais à integralização da formação superior. Essas atividades iniciam a partir do quinto semestre, de acordo com a legislação vigente (Lei de estágios 11.788 – Brasil, 2008); o regulamento da graduação da UFPel (Resolução COCEPE[5] 29/2018); as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial em Nível Superior e Formação Continuada (Resolução CNE 02 – Brasil, 2015); e a Política Institucional para a Formação Inicial e Continuada de Professores da Educação Básica da UFPel (Resolução COCEPE 25/2017)[6].
A preparação para a profissão docente inicia desde o primeiro semestre, a partir das disciplinas do curso, que buscam convergir as dimensões pedagógica, artística e científica com a docência e o contexto da Educação Básica, envolvendo estudos, reflexões, experimentações artísticas e a aproximação com a escola.
Os professores identificaram, após a formatura da primeira turma concluinte do curso, que a realização dos estágios foi o indicativo que apontou, ao corpo docente, a necessidade de um maior cuidado com o desenvolvimento de saberes relativos à organização didática, à prática e aos saberes docentes, à comunicação assertiva para o ensino, à ludicidade, entre outras especificidades que rodeiam os contextos escolares.
Desse modo, no contexto em que esta pesquisa é desenvolvida, ao longo de mais de 15 anos de existência do curso, os estágios deixaram de ser apenas uma prática obrigatória e necessária para a obtenção do título de licenciado em Dança, para receber maior atenção e relevância no percurso formativo para a profissão docente. Até o momento, o curso já (re)elaborou cinco Projetos Pedagógicos (nos anos de 2009, 2013, 2019, 2020, 2023), e a cada nova versão, os componentes curriculares de Estágio passaram a ser pensados como um processo que vai se construindo e consolidando no decorrer da graduação, e culmina em um conjunto de atividades que englobam: a interação com a comunidade em espaços escolares; a compreensão da organização e do planejamento escolar; a execução e a avaliação de atividades docentes; dentre outras complexidades do contexto da Educação Básica.
O movimento de fortalecer os Estágios Curriculares Supervisionados Obrigatórios instaurou-se a partir do Projeto Pedagógico do Curso de 2013, com a inserção das disciplinas de Prática Pedagógica em Dança, como pré-requisitos para a realização de cada estágio, dando continuidade e aprofundando as disciplinas de Pedagogia da Dança, ofertadas desde o início da graduação, como comentado mais adiante.
Zanella, Lessa e Corrêa (2019) caracterizam como acontecia a introdução à docência nos primeiros semestres do curso, na perspectiva do PPC de 2013. Para as autoras,
[...] nesse período, é dada visibilidade para a bagagem pessoal de cada sujeito, introduzindo-os às práticas docentes em Dança no ensino formal. São apresentadas abordagens de ensino e realizadas discussões sobre arte/dança, escola e sociedade. A ação de planejar uma aula de Dança passa a ser enfatizada, buscando instrumentalizar metodológica e pedagogicamente esses acadêmicos que estão se formando como professores. Nesse período, inicia-se, também, a aproximação com a escola, seja por meio de visitas e propostas de trabalho com observações, seja por meio de projetos de ensino, pesquisa e extensão (Zanella; Lessa; Corrêa, 2019, p. 194).
Naquele momento, três eram os estágios que compunham a matriz curricular: Estágio em Dança I - realizado na Educação Infantil e/ou Anos Iniciais do Ensino Fundamental; Estágio em Dança II - realizado em espaços não formais de ensino; e por fim, Estágio em Dança III - realizado nos Anos Finais do Ensino Fundamental e/ou Ensino Médio.
Com o crescimento, amadurecimento e reconhecimento da área pedagógica no curso, o coletivo de professores(as) foi-se percebendo cada vez mais como uma licenciatura com o objetivo de formar professores(as) para atuar na Educação Básica[7], e isto resultou na contratação de mais docentes comprometidos com o estudo do ensino de dança no ambiente escolar. Isso instigou, provocou o coletivo de professores(as) e ocasionou novas mudanças no currículo formal. O investimento nos estágios como um processo artístico-pedagógico passou a se concretizar em decorrência da ampliação do entendimento de que o objetivo do curso é formar um(a) professor(a)-artista-pesquisador(a) (Universidade Federal de Pelotas, 2023). Esse movimento ganhou força com a realização de concurso público para professor(a) de dança no município de Pelotas[8], no ano de 2019, inserindo muitos(as) egressos(as) como docentes na rede municipal de Educação Básica.
Cabe destacar que a mudança do currículo atual (2023) contemplou dois movimentos: o direcionamento para que a prática acontecesse totalmente vinculada à Educação Básica, exigência decorrente da Resolução CNE/CP nº 2/2015, que define que “400 (quatrocentas) horas dedicadas ao estágio supervisionado, na área de formação e atuação na educação básica, contemplando também outras áreas específicas, se for o caso, conforme o projeto de curso da instituição” (Brasil, 2015). Também pela necessidade que sentimos em proporcionar aos futuros professores, durante sua formação no curso, experiências com a docência em dança em todas as etapas da Educação Básica, contemplando a atuação docente da Educação Infantil ao Ensino Médio.
Tais mudanças efetivaram-se com a aprovação do novo PPC do curso (UFPel, 2023). O estágio[9], realizado do quinto ao oitavo semestre, passou a ter carga horária correspondente a 480 horas, divididas em quatro componentes curriculares com 120 horas cada: I - Estágio Curricular Supervisionado em Dança nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental; II - Estágio Curricular Supervisionado em Dança nos Anos Finais do Ensino Fundamental; III - Estágio Curricular Supervisionado em Dança no Ensino Médio; IV - Estágio Curricular Supervisionado em Dança na Educação Infantil, como apresentamos no quadro a seguir.
Quadro 1 – O Estágio Supervisionado no Curso de Dança - Licenciatura da UFPel
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Componente Curricular |
Ementa |
Objetivo |
Carga horária |
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Estágio Curricular Supervisionado em Dança nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental |
Inserção na escola de Educação Básica. Planejamento, observação, prática e registro das ações pedagógicas em dança com crianças. Elementos teórico-práticos da docência em dança nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Processos de ensinar, aprender e avaliar em dança. Sistematização, análise e socialização da ação docente. |
Realizar prática docente orientada e supervisionada em dança nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, articulando ações de ensino-aprendizagem através do planejamento, desenvolvimento e avaliação no território escolar. Relacionar as dimensões de pesquisa, artística e pedagógica, conforme o quadro Dimensões Formativas Transversais descrito no item 3.4.1 do Projeto Pedagógico de Curso. |
120 |
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Estágio Curricular Supervisionado em Dança nos Anos Finais do Ensino Fundamental |
Inserção em espaços educativos no Ensino Fundamental Anos Finais. Planejamento, observação, prática e registro das ações pedagógicas em dança para adolescentes do Ensino Fundamental Anos Finais. Elementos teóricos e práticos da docência em dança no Ensino Fundamental II. Processos de ensinar, aprender e avaliar em dança. Sistematização, análise e socialização da ação docente. |
Vivenciar práticas de ensino e docência de dança para adolescentes dos Anos Finais do Ensino Fundamental; aprofundar processos de avaliação em dança de acordo com o contexto de estágio; propor composições coreográficas que abordem o contexto dos/as alunos/as envolvidos em questões sociais. Relacionar as dimensões de pesquisa, artística e pedagógica, conforme o quadro Dimensões Formativas Transversais descrito no item 3.4.1 do Projeto Pedagógico de Curso. |
120 |
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Estágio Curricular Supervisionado em Dança no Ensino Médio |
Inserção em espaços educativos no Ensino Médio. Planejamento, observação, prática e registro das ações pedagógicas em dança para adolescentes do Ensino Médio. Elementos teóricos e práticos da docência em dança no Ensino Médio. Processos de ensinar, aprender e avaliar em dança. Sistematização, análise e socialização da ação docente. Práticas extensionistas vinculadas ao Programa de Extensão Dança-Comunidade. |
Vivenciar práticas de ensino e docência de dança para adolescentes do Ensino Médio; aprofundar processos de avaliação em dança de acordo com o contexto de estágio; propor composições coreográficas que abordem o contexto dos/as alunos/as envolvidos em questões sociais. Relacionar as dimensões de pesquisa, artística e pedagógica, conforme o quadro Dimensões Formativas Transversais descrito no item 3.4.1 do Projeto Pedagógico de Curso. |
120 |
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Estágio Curricular Supervisionado em Dança na Educação Infantil |
Inserção em espaços educativos na Educação Infantil. Planejamento, observação, prática e registro das ações pedagógicas em dança para a primeira infância. Elementos teóricos e práticos da docência em dança na Educação Infantil. Processos de ensinar, aprender e avaliar em dança. Sistematização, análise e socialização da ação docente. Incentivo ao protagonismo profissional na Educação Infantil. |
Vivenciar a docência em dança na Educação Infantil, articulando ações de ensino e aprendizagem através do planejamento e avaliação em contextos escolares, com um olhar sobre a infância na contemporaneidade. Relacionar as dimensões de pesquisa, artística e pedagógica, conforme o quadro Dimensões Formativas Transversais descrito no item 3.4.1 do Projeto Pedagógico de Curso. |
120 |
Fonte: Elaboração própria com base no Projeto Pedagógico do Curso (UFPel, 2023).
Essa nova configuração, que entrou em vigor a partir da aprovação do novo projeto pedagógico em 2023, ganha força com o grupo de docentes[10] que vem atuando nas Práticas Pedagógicas e posteriormente nos Estágios Curriculares Supervisionados Obrigatórios, a partir de uma abordagem que agrega o artístico e o pedagógico em uma relação intrínseca que demarca a presença da dança na escola. Assim, enfoca a relação entre a docência, a arte e a pesquisa na formação de um(a) professor(a)-artista-pesquisador(a) com capacidade investigativa acerca do campo da criação e da educação em dança.
Cabe destacar que, nesse novo desenho do currículo, percebeu-se a necessidade de contemplar a primeira infância como espaço fundamental e obrigatório na formação dos(as) discentes. Isso ocorreu pela complexidade que um trabalho com essa faixa etária exige, pela procura de profissionais especialistas para atuar com crianças pequenas, o que resultou na contratação e nomeação de egressos(as) em escolas de Educação Infantil, tanto privada quanto pública na cidade de Pelotas, bem como a necessidade de legitimar a dança como arte conectada ao processo educativo da criança. Tal legitimação instigou uma preparação e um aprofundamento dos saberes e fazeres docentes durante o processo formativo dos(as) acadêmicos(as), justificando a criação de uma prática pedagógica e um Estágio Curricular Supervisionado específico para o estudo, além da construção de propostas que propiciem “experiências corporais dançadas, artísticas e estéticas” (Andrade; Godoy, 2018, p. 30). Tais experiências devem estar conectadas ao lúdico e às fases do desenvolvimento da criança, também contribuindo para a ampliação das produções existentes nesta área.
Como inovação do novo projeto pedagógico do referido curso está a equiparação do Estágio Curricular Supervisionado em Dança no Ensino Médio à extensão, prevista na Lei n.º 11.788/2008, no segundo artigo, fundamentando o que está disposto nessa situação e indica que “as atividades em extensão do estágio obrigatório estarão associadas ao Programa Dança – Comunidade[11]” (UFPel, 2023, p.74).
Essas horas de extensão dentro desse estágio contemplarão atividades extracurriculares nas escolas-campo, a serem desenvolvidas pelos acadêmicos com os/as professores/as e funcionários/as da escola, ou com estudantes, ou com a comunidade escolar em geral, através de diversas ações que devem acontecer para além da realização de aulas pelos/as estagiários/as. A primeira turma a desenvolver o estágio dentro dessa perspectiva de atividades de ensino e extensão aconteceu durante o semestre 2024-1.
A preparação e a efetivação da prática docente
Nos Estágios Curriculares Supervisionados Obrigatórios do referido curso, a efetivação da prática docente é estabelecida através da elaboração e desenvolvimento prático do projeto de ensino para estágio, e da realização do relatório de estágio e seus desdobramentos. A união dessas etapas é compreendida como um momento de articulação de saberes, em que é possível revisitar os conceitos e experiências empíricas desenvolvidos em componentes de prática e consciência corporal, de criação em dança e de estudos históricos desenvolvidos no curso, pois acontece após quatro semestres de estudos teórico-práticos que buscam a preparação e a introdução ao exercício da docência, assim como a sua análise crítica.
Segundo Almeida (2023, p. 79), é no momento de estágio que
as/os estudantes dos Cursos de Licenciatura têm a oportunidade de vivenciar a jornada educativa, acompanhar as/os professores em ação, frente às questões que se apresentam, diretamente, com as/os jovens e/ou as crianças, na instituição, na relação com os demais profissionais, com a família, com a comunidade e a sociedade. Ações que potencializam o conhecimento do contexto histórico, social, cultural e organizacional da ação educativa; assim como o conjunto de comportamentos, saberes, habilidades, atitudes e valores que configuram a especificidade de ser professor/a e estar na profissão docente.
Desse modo, esse momento formativo do(a) licenciando(a) em Dança é crucial para sua apropriação e (re)conhecimento da profissão escolhida, fazendo com que ele(a) perceba afinidades e se reconheça nesse ofício. A preparação para a entrada na escola enquanto estagiário(a) é extremamente relevante, pois oferece condições e repertório para o desenvolvimento seguro da atuação docente, mesmo que nem todo o processo de estágio possa ser previsto com antecedência.
Como brevemente citado, no Curso de Dança da UFPel, cada um dos estágios supervisionados obrigatórios tem como pré-requisito um componente denominado de Prática Pedagógica. Como exemplo, o Estágio Curricular Supervisionado em Dança nos Anos Iniciais, que acontece no 5º semestre do curso, tem como pré-requisito o componente Prática Pedagógica em Dança nos Anos Iniciais, que acontece no 4º semestre. Por sua vez, os componentes específicos de Prática Pedagógica estão relacionados aos componentes de Pedagogia da Dança I e Pedagogia da Dança II, que objetivam o estudo teórico e a problematização de conceitos relacionados à noção de Arte e ao exercício docente no ensino de Dança (UFPel, 2023). Nesse sentido, não apenas os Estágios provocam uma profunda relação entre teoria e prática, mas também a dimensão pedagógica do curso de forma ampla.
Nos componentes de Prática Pedagógica (Prática Pedagógica em Dança nos Anos Iniciais, Prática Pedagógica em Dança nos Anos Finais, Prática Pedagógica em Dança no Ensino Médio, Prática Pedagógica em Dança na Educação Infantil), o(a) discente realiza ações de planejamento e sistematização de atividades e vivências de dança (figura 1). Dessa forma, busca atuar a partir de uma perspectiva lúdica, inclusiva e plural de acordo com diferentes contextos escolares e levando em consideração a etapa do desenvolvimento humano em que acontece o estágio (UFPel, 2023).
Figura 1 – Acadêmicos do Curso de Dança elaborando atividades de ensino durante o componente Prática Pedagógica em Dança nos Anos Iniciais (2023).

Fonte: Josiane Franken Corrêa – Acervo Pessoal.
Desse modo, os(as) professores(as) orientadores(as) instigam os(as) estudantes a elaborarem um pré-projeto de estágio, que poderá ser o impulso para o projeto oficial no próximo semestre, quando o(a) discente estiver, de fato, inserido no contexto escolar como estagiário(a). Na confecção do pré-projeto, é incentivado que os(as) estudantes articulem temas e saberes desenvolvidos nos componentes já cursados até o momento, fazendo com que o eixo pedagógico do curso se torne propulsor de um conhecimento autoral a partir do que já foi vivenciado. Durante os componentes de Prática Pedagógica, os(as) estudantes são incentivados a confeccionar recursos didáticos e partilhar materiais com os(as) colegas, o que vai ao encontro de uma construção de saber colaborativa e inclusiva (Zanella; Lessa; Corrêa, 2019).
A perspectiva colaborativa é destacada por Damiani (2008, p. 215), ao enfatizar que, quando trabalham colaborativamente, “os membros de um grupo se apoiam, visando atingir objetivos comuns negociados pelo coletivo, estabelecendo relações que tendem à não-hierarquização, liderança compartilhada, confiança mútua e co-responsabilidade [sic] pela condução das ações”.
Também são promovidas atividades de intervenção em escolas (figura 2), onde os(as) futuros(as) estagiários(as), acompanhados dos(as) professores(as) da Graduação, devem ministrar atividades pontuais que fazem parte do seu pré-projeto de estágio. Essa experiência empírica instiga uma relação inicial com a comunidade escolar, e as escolas selecionadas para esse momento são instituições parceiras da UFPel que poderão receber os(as) estudantes enquanto estagiários(as) em um futuro próximo. Essa ação tem o objetivo de compreender a realidade profissional, conhecer as pessoas envolvidas, trocar experiências e partilhar dúvidas com a comunidade escolar, assim como com orientadores(as) e colegas matriculados no componente curricular na Universidade.
Figura 2 - Acadêmicos do Curso de Dança em intervenção pedagógica na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora Medianeira durante o componente Prática Pedagógica em Dança nos Anos Iniciais (2024).

Fonte: Josiane Franken Corrêa – Acervo Pessoal.
É nessa etapa da sua trajetória formativa que o(a) estudante vivencia uma “relação entre teoria e prática que é específica da formação do professor: a aprendizagem da transposição didática do conteúdo, seja ele teórico ou prático” (Mello, 2000, apud Corrêa, 2018, p. 253). Assim, aquilo que é desenvolvido dentro da Universidade deve ser estudado, esmiuçado e experimentado com a perspectiva de adentrar a Educação Básica, a partir da realidade estabelecida e do que pode ser impulsionado com foco no que é real.
Isso significa compreender o contexto da escola com maior profundidade, para que seja possível a geração de ações artístico-pedagógicas em comunhão com o contexto formal de ensino, sem que os(as) estudantes deixem de lado sonhos e desejos artísticos anteriores ao contato com a Educação Básica como estagiários. Sobre isso, Almeida (2023, p. 101) afirma:
A transposição didática requer pensar cada ação discutida na Universidade em função das características e peculiaridades de cada ambiente (escolar), da necessidade de abrir a escuta ao contexto, antes da/o discente propor algo que ela/e experimentou em seu percurso artístico, profissional e acadêmico, todavia, sem apagar a chama da inovação, da novidade e do frescor que as/os estudantes carregam.
É relevante levantar essa questão, pois muitos de nossos(as) acadêmicos(as) não compreendem a escola como um local de/da arte. Ao perceberem que as condições, especialmente de infraestrutura física que se apresentam nas escolas de Educação Básica são distintas das produções espetaculares realizadas em outros ambientes, alguns acadêmicos(as) acabam se afastando da docência, e muitas vezes não são estimulados a enxergar a escola sob outras lentes, que dão grande abertura para a inventividade e para o exercício da cidadania.
Por isso, fica evidente no currículo do curso a importância da escola como um espaço formativo fundamental para a futura profissão, que com a devida responsabilidade e orientação, desde o início da caminhada na licenciatura, possibilita que os(as) acadêmicos(as) sejam inventores capazes de promover mudanças a partir da arte e encontrar soluções para espaços reais e que fazem parte do mundo do trabalho que eles(as) encontrarão assim que formados.
Como já mencionado, após os primeiros quatro semestres da Graduação em questão, o(a) estudante depara-se com o papel de estagiário(a). Nesse momento é apresentado a ele(a) um leque diversificado de atividades, pois cada um dos Estágios compreende: participação das aulas na universidade com orientação individualizada; preparação da documentação necessária para o estágio; estudo do contexto no qual irá se inserir; redação do seu projeto, desenvolvimento de pesquisas, reunião e identificação de teorias já estudadas e retomada de atividades de dança que possam subsidiar o exercício docente a ser desenvolvido; planejamento e experimentação do ensino de dança no contexto acadêmico e com a avaliação do(a) orientador(a) e colaboração dos pares; e compilação de materiais didático-pedagógicos que serão utilizados na prática docente.
A execução do projeto de ensino é marcada pela troca de experiências e pela partilha de dúvidas com os agentes escolares, orientadores(as) e colegas matriculados(as) no componente curricular, pela regência no ensino de dança em diferentes etapas da Educação Básica e pela busca de um perfil docente próprio e que atenda às necessidades da comunidade escolar e os objetivos formativos e profissionais do(a) acadêmico(a).
Durante o período, o(a) estagiário(a) participa de reuniões e conselhos de classe na escola, interage com docentes em atuação, realiza a avaliação da própria prática e idealiza ações que podem contribuir para a preparação docente e para o fortalecimento da área de conhecimento específico no contexto escolar, como a produção de eventos e projetos de dança na escola.
Para tanto, ao adentrar o espaço escolar, os(as) estagiários(as) permanecem semanalmente, durante todo o período do estágio, por um turno de quatro horas na instituição, com o intuito de conhecer melhor a rotina escolar para além das aulas de regência. Nesse sentido, podem acompanhar o trabalho do(a) supervisor(a) de estágio, os intervalos das aulas, as reuniões, a sala dos(as) professores(as) e auxiliar em demandas que surgem na escola, oportunizando maior compreensão do ambiente profissional de um(a) professor(a) licenciado(a) em dança.
O(a) professor(a) orientador(a), responsável pelo componente de Estágio na Universidade, faz o contato inicial com a escola de Educação Básica e realiza as visitas in loco de acordo com a distribuição de estagiários nas escolas. Por exemplo, se há apenas um estagiário do Curso atuando em uma instituição, o(a) professor(a) faz pelo menos duas visitas ao(a) estudante em atuação ao longo do estágio, nas quais observa a prática docente e conversa com a gestão escolar e com o(a) professor(a) supervisor(a) na escola.
No caso de haver mais estudantes em uma instituição, cria-se uma dinâmica diferenciada, pois há uma ocupação da escola por parte dos(as) estagiários(as), e o(a) professor(a) orientador(a) passa, por consequência, a ficar mais tempo dentro da escola. A comissão de estágios tem apoiado esse último modo de inserção de estagiários nas escolas, de forma a fortalecer a colaboração entre os estagiários e os laços com as comunidades escolares.
Em um dos casos, identificado nos relatórios dos(as) estudantes, por exemplo, em que três estagiários(as) atuaram na mesma escola e turno, criou-se uma organização em que cada pessoa tinha a regência de uma turma em um horário, e isso tornou possível que, enquanto um(a) estava ministrando sua aula, os(as) outros(as) dois(duas) atuavam como monitores da turma. Desse modo, os(as) três estagiários(as) cumpriam o seu turno semanal ficando três horas em sala de aula, que compreendia uma hora enquanto regente de turma e duas enquanto monitores(as), e uma hora atuando na escola em outras demandas. Algo que chamou a atenção nessa experiência foi que os(as) estagiários(as) eram responsáveis por auxiliar na saída das crianças ao final das aulas, e isso oportunizou o contato direto com as famílias, fazendo com que o vínculo entre estagiários(as) e crianças se fortalecesse.
Essa ideia de ficar um turno na escola por semana também proporciona, ao(à) professor(a) orientador(a), a vivência do ambiente escolar de forma intensa, pois acompanha, como um(a) observador(a) participante, o que acontece na escola enquanto está nesse contexto. Diferente das duas visitas que ele costuma fazer quando tem um(a) estagiário(a) atuando sozinho(a) em uma instituição, quando há mais estagiários(as) na mesma escola, por consequência, o(a) professor(a) orientador(a) acaba fazendo uma imersão de maior tempo nesse local.
Além das visitas de observação que são combinadas entre professor(a) e estagiário(a), o(a) professor(a) orientador(a) também fica disponível para ir à escola quando necessário durante toda a realização do estágio, seja por solicitação do(a) estagiário(a) ou da escola.
Durante o decorrer do semestre, o(a) acadêmico(a) explicita suas ações nas orientações, assim como reúne os materiais comprobatórios de estágio: planos e relatórios de aulas, folha ponto com assinatura de responsável na escola, parecer escrito da escola, registros fotográficos e outros. Para isso, existe um repositório digital com pastas individuais de cada estudante administrado pela comissão de estágios.
Ao final, o relatório é socializado através de um seminário com os(as) professores(as) e colegas da Graduação, e na oportunidade, as escolas que receberam estagiários(as) naquele período também são convidadas a participar. O relatório de estágio caracteriza-se pela reflexão sobre o acontecido a partir da redação de um texto narrativo/reflexivo. Há a possibilidade de o relatório ser escrito na forma de artigo científico e publicizado em periódico da Área, como já foi realizado pelos estudantes Thiago Rezende Ávila (Souza; Ávila, 2023), Jean Dornelles Chagas e Filipe Iracet (Souza et al., 2024), e Jeferson Leonardo Manfroni Cabral (Cabral; Zanella; Silva, 2024), juntamente com seus orientadores.
Cabe destacar que a experiência em relação à docência se expande no Curso de Dança - Licenciatura da UFPel, a partir de dois programas que integram a Política Nacional de Formação de Professores, vinculado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). São eles: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), desde 2011; e o Programa Residência Pedagógica, desde 2020. Ambos garantem aproximação e inserção dos acadêmicos(as) na Educação Básica.
O Programa Residência Pedagógica tem relação direta com os Estágios Curriculares Supervisionados, pois oportuniza o aperfeiçoamento da formação prática dos(as) estudantes de Cursos de Licenciatura, promovendo a imersão deles nas atividades da escola de Educação Básica a partir da segunda metade de seu curso. Além disso, permite que os(as) estudantes solicitem aproveitamento de estudos realizados no âmbito do Programa para cômputo de carga horária prática de um dos Estágios Obrigatórios.
O Programa é organizado em três Módulos, englobando em cada um deles: atuação dos(as) residentes divididas em momentos de estudos; preparação da equipe; ambientação; desenvolvimento de planejamento (Planos de Ensino e Planos de Aula) e de ações diretas de regência de classe. Por essa organização, e considerando a Resolução nº 08 do COCEPE, de 20 de maio de 2021, é possível assumir que os focos desses módulos se aproximam com as atividades desenvolvidas nos Estágios Curriculares Supervisionados Obrigatórios do Curso de Dança (UFPel, 2021).
Nas características e focos formativos no ensino da arte evidencia-se que as ações desenvolvidas em cada um dos módulos do Programa Residência Pedagógica contemplam os aspectos gerais da intervenção didática propostos pelos componentes de estágio. Nesse sentido, os Projetos Pedagógicos do curso de Dança - Licenciatura (UFPel, 2019; 2023) aceitam que discentes que tenham completado integralmente um módulo (seja ele o módulo 1, 2 ou 3) do Programa Residência Pedagógica tenham aproveitamento da parte prática nos seguintes componentes curriculares: I - Estágio Curricular Supervisionado em Dança nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental; II - Estágio Curricular Supervisionado em Dança nos Anos Finais do Ensino Fundamental; III - Estágio Curricular Supervisionado em Dança no Ensino Médio; e IV - Estágio Curricular Supervisionado em Dança na Educação Infantil.
No projeto pedagógico do Curso de Dança - Licenciatura da UFPel (2023), fica destacado que, no Programa Residência Pedagógica há um foco na partilha e construção de saberes com os(as) estudantes e professores(as) das instituições parceiras, tendo em vista um processo formativo sensível e conectado com o contexto cultural, político, social das escolas. Além disso, investe-se na relação entre universidade e escola a partir de suas demandas e expectativas, abrangendo dimensões coletivas, organizacionais e profissionais, além de um (re)pensar sobre o processo pedagógico, envolvendo a reflexão sobre a prática educacional e docente. O aperfeiçoamento e a valorização dos saberes dos(as) docentes e discentes são elementos fundamentais nessa integração.
Desdobramentos e considerações finais
A possibilidade de realizar pesquisa e socializar um texto que conta um pouco de como tem ocorrido a história dos Estágios Curriculares Supervisionados Obrigatórios no Curso de Dança - Licenciatura da UFPel demonstra que esse Curso está em um momento importante de consolidação formativa da profissão professor(a) de dança no contexto em que se encontra.
Acreditar na formação docente como uma ação em movimento que se constrói e desconstrói continuamente significa entender o passado como mobilizador do presente e confirma que, a partir de tudo o que já foi vivenciado, é viável reorganizar currículos, desejos e intenções, dando seguimento a um movimento ininterrupto.
O tempo de existência do Curso e, por consequência, suas ações, possibilitaram o alcance de escolas de Pelotas e região; inserção de vários alunos(as) na mesma escola para a geração de docência(s) colaborativa(s); maior tempo de permanência dos(as) estagiários(as) e do(a) professor(a) orientador(a) no ambiente escolar; limitação de estagiários(as) por orientador(a), sendo o máximo de 10 estudantes por professor(a), o que é preconizado pelas normativas da UFPel; possibilidade de realização dos estágios com professores(as) supervisores(as) na escola que são formados em Dança, realidade recente no município; e publicação de artigos científicos por parte dos(as) estagiários(as), apresentados em eventos da área.
A partir da análise realizada, identificamos que o trabalho desenvolvido nos quatro estágios obrigatórios está diretamente relacionado ao perfil do(a) egresso(a) desejado pelo curso, que intenciona formar um(a) professor(a) qualificado(a) para lidar com as demandas contemporâneas da docência na escola. Assim, compreende-se a docência como ato intencional e metodologicamente organizado, o qual depende de conceitos, princípios e objetivos da formação profissional relacionados a valores éticos, linguísticos, estéticos e políticos. Também, acredita-se que o exercício da docência implica a mediação de experiências artístico-educacionais, a democratização do acesso à arte, a produção e a socialização de conhecimentos, em diálogo com diferentes visões de mundo.
Finalizamos pensando que a trajetória formativa de professores(as) de Dança na UFPel é baseada: na relação professor(a) orientador(a), supervisor(a) de campo e aluno(a), na relação corpo/espaço/tempo, na relação arte/educação, na relação universidade e comunidades escolares, e na relação dos saberes acadêmicos com os saberes individuais que culminam em ações pedagógicas específicas para o ensino de dança na escola.
Atuar como docentes orientadores(as) na formação de professores(as) de Dança significa construir, junto aos(as) estagiários(as), processos de confiança na educação e na arte. É propor novos movimentos de ensino e aprendizagem que permitam desenvolver objetos de conhecimentos específicos que perpassam o corpo, com procedimentos pedagógicos adequados às diferentes faixas etárias e contextos escolares. Também é pensar a docência com foco na excelência e auxiliar na constituição docente de nossos(as) estudantes a partir de uma aprendizagem significativa, em que eles(as) assumem a centralidade do processo, de forma autônoma, crítica e responsável. Eles(as) passam, portanto, a serem corresponsáveis por sua trajetória formativa, sendo as peças fundamentais na configuração desse novo formato de estágio em que ficam semanalmente todo um turno dentro da escola. Assim, vivenciam esse contexto para melhor compreender suas dinâmicas, as práticas institucionais e profissionais dos(as) professores(as) que nela atuam.
Referências
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ZANELLA, A. K.; LESSA, H. T.; CORRÊA, J. F. O estágio no Curso de Dança: reflexões sobre docência, formação e conhecimento em dança. Revista Digital do LAV – Universidade Federal de Santa Maria, v. 12, p. 3. 2019. DOI: https://doi.org/10.5902/1983734839302. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/revislav/article/view/39302/pdf. Acesso em 14 jan. 2024.
Submetido: 02.07.2024.
Aprovado: 30.07.2025.
[1]Universidade Federal de Pelotas, Pelotas: andrisakz@gmail.com.
[2] Universidade Federal de Pelotas, Pelotas: josianefranken@gmail.com.
[3] Universidade Federal de Pelotas, Pelotas: marcoaurelio.souzamarco@gmail.com.
[4] “A estrutura curricular do Curso foi arquitetada em três dimensões formativas transversais: dimensão de pesquisa, dimensão artística e dimensão pedagógica. Entende-se que todos os componentes curriculares são constituídos das três dimensões, embora cada componente possa apresentar maior desenvolvimento em alguma delas. Por exemplo, apesar do trabalho desenvolvido no componente Expressão Corporal enfatizar a formação artística do/a graduando/a, também engloba sua formação de pesquisa e pedagógica” (Universidade Federal de Pelotas, 2023, p. 51). Nesse sentido, como exemplo, os componentes de Pedagogia da Dança I e II têm como maior foco de desenvolvimento a dimensão pedagógica; assim como o componente Montagem Cênica I e II têm como foco a dimensão artística; e o componente Projeto de Pesquisa em Dança, a dimensão científica, e assim sucessivamente.
[5] Secretaria dos Conselhos Superiores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
[6] Faz-se necessário destacar dois espaços importantes que dão suporte às atividades vinculadas aos Estágios da Universidade da UFPel: Comissão de Licenciatura e Fórum Permanente de Integração entre Universidade e Educação Básica (FIESEB). A Comissão de Licenciatura caracteriza-se como espaço de discussão voltado à formação inicial e continuada. A partir dessa comissão, foi elaborada a política institucional para a formação inicial e continuada de professores da Educação Básica da Universidade Federal de Pelotas. Um dos objetivos da política institucional foi o fortalecimento da universidade com as instituições de Educação Básica por meio de um Fórum Permanente de Integração entre Universidade e Educação Básica, reconhecendo-o como espaço de diálogo e planejamento de ações para a formação dos profissionais do magistério. Assim surgiu o FIESEB, que está integrado às ações do Núcleo de Licenciaturas e Estágios da Coordenação de Ensino e Currículo da Pró-Reitoria de Ensino da UFPel, sendo um importante espaço aos Cursos de Licenciatura para ampliar o diálogo e estreitar os vínculos com as escolas da rede pública de ensino.
[7] O campo profissional da dança é composto por diferentes espaços de atuação, e a Educação Básica é uma opção muito recente de trabalho, por diversos motivos. Apesar de parecer óbvio que um curso de licenciatura deva se voltar para o espaço escolar, no caso da Dança, é importante compreender que o maior espaço de atuação ainda é formado por academias e estúdios de dança, o que traz consequências para as práticas formativas, até mesmo na Universidade. Por isso, o corpo docente do curso, ao estar atento ao mundo do trabalho do profissional que forma, vai se aproximando da escola na medida em que mais vagas são abertas para seus egressos e, inclusive, auxilia na criação dessas vagas, conforme colocado mais adiante.
[8] No ano de 2019, após saber da possível abertura de concurso público no município de Pelotas para professor(a) da Educação Básica, iniciou-se um movimento que agregou docentes, discentes e egressos do Curso de Dança-Licenciatura da UFPel junto à Secretaria Municipal de Educação e Desporto do município de Pelotas para a inserção de professores(as) de dança nas escolas de Educação Básica. Justificou-se a demanda pela legislação vigente, bem como a existência do curso há mais de dez anos na cidade, havendo muitos(as) professores(as) formados(as). Tal movimento resultou na realização de concurso público Edital 133/2019, com conteúdo programático específico, nomeação, e posteriormente, contratação desses(as) profissionais. Atualmente, nas escolas municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental de Pelotas, há 22 professores(as) de dança atuando. Ver mais em Silva (2023).
[9] Para a realização dos estágios, o curso de Dança – Licenciatura tem dois convênios firmados na cidade de Pelotas: a 5ª Coordenadoria Regional da Educação (CRE) e Secretaria Municipal de Educação e Desporto (SMED), órgãos responsáveis pela Educação Básica municipal e estadual.
[10] São professores(as) do Estágio Curricular Supervisionado em Dança: Andrisa Kemel Zanella, Carmen Anita Hoffmann, Flávia Marchi Nascimento, Josiane Franken Corrêa e Marco Aurélio da Cruz Souza.
[11] O curso oferece 10 disciplinas com créditos extensionistas em suas ementas, “[...]. Elas estão associadas ao programa Dança - Comunidade, que abarca os projetos unificados do curso de Dança, contando com ações diversificadas que se relacionam à comunidade em geral. Os/As professores/as regentes da disciplina [...] poderão registrar a carga horária de extensão em atividades do programa exercidas fora da disciplina” (UFPel, 2023, p. 79). No caso do Estágio em questão, “a atividade extensionista será planejada e realizada em diálogo com a escola, de acordo com o contexto encontrado e com as necessidades da instituição” (UFPel, 2023, p. 79).